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Mulheres já são maioria entre franqueados de grandes redes, mas ainda há desafios

Atualmente, 54% dos franqueados brasileiros são mulheres.

02 dez 2024

A participação de mulheres tem crescido entre os franqueados brasileiros nos últimos anos. Em algumas redes tradicionais, como Kopenhagen, Sorridents e Calçados Bibi, elas já são maioria, chegando a 85%. Na rede O Boticário, a segunda maior do país, elas são 63%. Uma pesquisa divulgada pela consultoria CommUnit, em 2023, já mostrava que 54% dos franqueados brasileiros são mulheres. E esse número ainda pode aumentar. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), 51% dos potenciais franqueados mapeados no ano passado eram mulheres.

Para Cristina Franco, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Franchising, a tecnologia vem sendo uma grande aliada para esse crescimento. Isso porque o acesso vem democratizando e proporcionando recursos e informações, inclusive, possibilitando a aproximação delas com redes de apoio e com programas de mentorias destinados às mulheres.

Além disso, a especialista acredita que há uma alteração nas dinâmicas familiares, com os pais participando mais das tarefas domésticas e na criação de seus filhos. “Isso permite que as mães possam buscar mais oportunidades e possibilidades para se aprimorar, empreender e trabalhar”, destaca Franco.

Lênia Luz, CEO da Illuminas Assessoria e Treinamentos, concorda e acredita que o aumento na participação do franchising reflete bem isso, pois “essa transformação social e cultural faz com que mulheres busquem negócios que tenham flexibilidade para conciliar carreira e família”.

“O modelo de franquias, com suporte e estrutura, é atraente tanto para mulheres que querem empreender como para mulheres que querem ter uma segunda renda sustentável”, afirma Luz.

Segundo o estudo da ABF, hoje, as mulheres que desejam empreender buscam segurança, estabilidade e realização do sonho do negócio próprio. Porém, 87,8% não têm experiência no franchising e, apesar de ser um cenário promissor, especialistas consultadas por PEGN acreditam que ainda há muitos desafios que precisam ser superados.

Para elas, as mulheres ainda enfrentam a invalidação de suas competências, a ausência de políticas igualitárias dentro de empresas e a sobrecarga e o acúmulo de funções na vida profissional e pessoal. Segundo Franco, elas também têm mais dificuldade de acesso ao crédito.

Para Lyana Bittencourt, CEO do Grupo de Consultorias de Franquias Bittencourt, um dos desafios mais significativos que muitas enfrentam, hoje, é a invalidação do seu poder de gestão, especialmente em ambientes onde a liderança ainda é predominantemente masculina — mesmo quando possuem qualificações superiores.

"Esse cenário não apenas dificulta a tomada de decisões, mas também pode impactar o desempenho da empresa, quando ela subestima habilidades de gestão valiosas”, afirma.

Para a especialista, outro ponto crítico é a necessidade que muitas sentem em preencher “todos os requisitos de liderança com perfeição”. “Enquanto os homens tendem a se candidatar a cargos mesmo que atendam apenas a uma parte das exigências, muitas mulheres sentem a pressão de cumprir 100% dos critérios antes de se sentirem aptas para assumir essas posições”, diz Bittencourt.

Jornada dupla: um dos maiores desafios das empreendedoras

A jornada dupla é apontada, por especialistas consultadas por PEGN, como um dos maiores obstáculos enfrentados por mulheres empreendedoras. Isso porque, mesmo em cargos de liderança, elas sentem uma expectativa social de cuidar da casa e dos filhos, o que pode dividir sua atenção e tempo.

Para Renata Vichi, CEO do Grupo CRM, dono das marcas Kopenhagen e Brasil Cacau, ser mãe traz novos desafios para uma mulher, ainda mais quando ela é empreendedora. Atualmente, 60% das franquias do Grupo CRM são comandadas por mulheres.

“É difícil para a mãe, para a mulher equilibrar todas essas facetas que nós temos. Eu acho que ainda é um ambiente que exige uma carga horária mais pesada, ainda mais em shopping , onde a gente opera das 10h às 22h, sábado e domingo. Então tem um pouco da mudança da dinâmica da mulher no seu papel como mãe e como executiva”, destaca Vichi.

Carla Sarni, CEO e fundadora do Grupo Salus, afirma que apesar das dificuldades enfrentadas, hoje, a mulher empreendedora sonha muito mais alto e deseja ocupar grandes cargos, se tornar multifranqueada e faturar milhões.

“A mulher que empreende tem um desafio maior porque ela carrega vários pratinhos ao mesmo tempo. Mas eu sempre falo para minhas franqueadas que não tem problema os pratinhos caírem, está tudo certo. Nós temos que prezar muito mais a qualidade do que a quantidade”, destaca a executiva.

Fundado por Sarni, hoje, o Grupo Salus conta com 70% da sua rede de franquias comandada por mulheres. Mesmo sem ter um programa de incentivo ao empreendedorismo feminino, a CEO acredita que o setor em que o grupo atua acaba atraindo mais o gênero. Atualmente, a companhia tem em seu portfólio marcas como Sorridents, Amo Vacinas e Gio Estética Avançada.

Para que tenha um equilíbrio em todas as frentes da vida, seja profissional, pessoal e familiar, Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, acredita que é importante que a franqueada saiba delegar e entenda que “não vai conseguir controlar e estar 100% em tudo, contando com uma rede de apoio nas frentes necessárias”.

“É importante cuidar de si, estar bem com sua família para tocar seu negócio. Quando se é empreendedor, a dedicação e responsabilidade no campo profissional é grande”, diz a CEO. “Desenvolva e forme um bom time empoderado e com propósito compartilhado para não sobrecarregar e desequilibrar outras frentes da vida e também do negócio”, acrescenta.

85% dos franqueados da Calçados Bibi são empreendedoras mulheres. Para estimular esse número, Kohlrausch explica que a marca vem oferecendo mentoria que aborda temas como economia e finanças, que apesar de não ser exclusiva para as franqueadas, o curso vem incentivando novas competências para as mulheres que vão além de vendas, compras e desenvolvimento dos times.

Mas o franchising vem sendo visto com bons olhos. Para Franco, o setor é uma porta de entrada para as empreendedoras, principalmente, por “oferecer um caminho mais estruturado e acessível para todos os perfis”. Hoje, o perfil mais comum do franqueado brasileiro, segundo o mapeamento do instituto Hibou, feito a pedido da consultoria CommUnit, é: Mulher (54%), entre 36 e 45 anos (41%), que recolhe impostos pelo Simples Nacional (84%) e possui apenas uma unidade (54%), do segmento de alimentação (36%).

Conteúdo publicado originalmente no site da revista PEGN:
https://revistapegn.globo.com/franquias/noticia/2024/11/mulheres-ja-sao-maioria-entre-franqueados-de-grandes-redes-mas-ainda-ha-desafios.ghtml

 

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