O empreendedor Leonardo Anjos frequentava os corredores da empresa que leva seu sobrenome, fundada por seu pai, Claudinei dos Anjos, desde a adolescência. “Quando eu tinha uns 15 anos meu pai dizia que, se eu fosse capacitado, estaria dentro da empresa. Se não, estaria fora”, conta. Hoje, aos 32 anos, ele está à frente da gestão de franquias, expansão e varejo da Anjos Colchões & Sofás. O patriarca ainda responde pela fábrica, mas a família está em vias de estruturar um conselho de administração para ajudá-los na transição.
A sucessão é um dos grandes desafios de gestão de empresas familiares longevas, de acordo com Juarez Leão, presidente da consultoria Leão Business Upgrade. O especialista explica que apenas 25% dos negócios que têm gestão familiar sobrevivem à segunda geração, mas que isso vem mudando com o tempo. “Estamos desmistificando que se preparar para isso é coisa de grande empresa. Quem quiser ter perenidade precisa se preocupar com o tema”.
O assunto foi tema de um painel na ABFCon, evento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que acontece nesta semana na Ilha de Comandatuba, em Una (BA).
Durante a conversa, Leonardo disse que fazer parte do negócio desde cedo foi fundamental para entender o que ele gostava ou não e entender se queria, de fato, fazer parte da empresa. "Se eu ficasse na fábrica, por exemplo, talvez não fosse tão feliz". Quando passou a assumir funções, conta que precisou mudar a visão que tinha de si mesmo para se ver como um empreendedor.
“Em 2019, eu fui para a convenção da IFA (Associação Internacional de Franquias) e foi um divisor de águas para mim. Eu estava rodeado de pessoas experientes, com muito conhecimento e pensava que não era para eu estar ali, mas sim meu pai. Ele me disse: ‘A partir de agora você é que tem que andar com essas pessoas, cerque-se de gente que sabe mais do que você para aprender com elas'”, diz.
Outro empreendedor que teve uma trajetória parecida para assumir os negócios da família foi Pablo Bernardes, filho de Isais Bernardes, fundador da Chiquinho Sorvetes. Ele começou a frequentar o negócio também na adolescência, antes ainda de a empresa se tornar uma rede franqueadora. “Atendia as pessoas na loja, limpava mesas, aquilo foi fundamental”, diz.
A partir de sua experiência, ele se identificou mais com a parte financeira do negócio. Hoje ocupa o posto de vice-presidente. “Quando comecei a me envolver, percebi que queria participar”, diz.
Na rede de aluguel de equipamentos para construção civil Casa do Construtor, a opção foi por não fazer uma sucessão entre os familiares – por mais que filhos dos fundadores Altino Cristofoletti Junior e Expedito Arena atuem no negócio como executivos e franqueados. “A decisão do conselho familiar foi por uma sucessão executiva”, diz Daniel Guedes, que faz parte do comitê executivo da empresa.
“Começamos o processo há cinco anos, o meu papel é transitório da gestão dos fundadores para a gestão executiva”, explica. De acordo com ele, a decisão foi substituir os dois fundadores por um grupo de executivos, com igual peso. “Nos próximos anos, se alguém se revelar entre o comitê, pode ser alçado à posição de CEO”, diz.
O desafio de uma sucessão executiva, no entanto, é inovar sem perder a essência do negócio. “Não precisa ter compromisso 100% com o passado, mas também não pode querer desmantelar tudo o que foi feito”, diz Guedes.
Quando começar
Negócios que têm a figura do fundador como uma imagem forte precisam de mais tempo para se adaptar e para que a empresa ganhe nova identidade sob outra gestão. Leão indica que as empresas comecem a pensar no futuro o quanto antes.
De acordo com ele, a instituição de um conselho de administração é o primeiro passo para quem pensa no futuro do negócio. “Não é uma ferramenta só para grandes negócios. Pode começar com qualquer tamanho”, fala.
Guedes, da Casa do Construtor, complementa que um conselho com membros de fora da empresa pode ajudar a trazer insights externos e ajudar a revelar visões diferentes dos fundadores. “Temas delicados tendem a ser postergados, mas o conselho ajuda a puxar as discussões importantes, como a sucessão.”
Conteúdo publicado originalmente no site PEGN:
https://revistapegn.globo.com/gestao/noticia/2024/10/como-saber-se-e-hora-de-pensar-na-sucessao-do-seu-negocio.ghtml